domingo, 1 de dezembro de 2013

“O GALO E OS FALSOS PODERES ABSOLUTOS”

Conta a lenda que numa fazenda o dia ainda era dominado pela escuridão da madrugada quando o galo que se achava detentor de todos os poderes sobre o raiar do dia, pulou do poleiro e, no chão, como se estivesse se aquecendo, esticou as canelas, abriu as asas, olhou para os lados, caminhou até o centro do terreiro, voltou, subiu no telhado do galinheiro, estufou o peito, bateu as asas e cantou com todas as suas forças.  Os outros animais não o viam, pois, alguns acordavam com seu canto e os outros, apesar disso, dormiriam até mais tarde. Mesmo assim ele agia como se tudo fosse um grande espetáculo.
            De fato, os primeiros raios de sol surgiam por trás dos montes mais distantes, os homens começavam a juntar as vacas para a ordenha e o galináceo todo orgulhoso comentou com o burro que se aproximava lentamente:
___ Viu “seu” burro? Eu canto e o dia aparece. Se não fosse meu grande poder o mundo só teria escuridão. As plantas não cresceriam os homens não trabalhariam e todos seriam infelizes por falta de luz. Todos dependem de mim.
___ Não se iluda. ___ respondeu o burro ainda com cara de sono. ___ antes de você já havia a luz, a escuridão, as plantas cresciam, o homem trabalhava, enfim, tudo acontecia normalmente.
___ O senhor fala isso por inveja de não saber cantar. ___ retrucou o galo.
            Certo dia, porém, depois de umas ciscadas a mais no dia anterior, o galo perdeu a hora e quando acordou o sol já ia alto. O coitado se desesperou e quando viu que todos cuidavam da vida normalmente, sem que precisassem de seu canto para o sol nascer, percebeu que o burro tinha razão. A tristeza foi grande e a cada dia o bicho ia se abatendo mais até cair em depressão. Foi aí que os outros animais se uniram e resolveram mostrar ao galo que o mundo não gira em torno de uma só criatura. Que cada indivíduo e cada coisa têm seu lugar e sua utilidade no universo, que a união de todos faz a vida acontecer melhor e que a função de sua espécie, além da reprodução e da sobrevivência era de entoar seu canto maravilhoso nas madrugadas anunciando o nascer de mais um belo dia.
            Depois disso, o galo se reanimou, todos retomaram sua rotina e viveram felizes para sempre.
                                                                                                                                             (adaptado de conto popular por Toninho Portes)

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